Entro e saio de empresas enquanto consultor e sempre ouço de líderes e equipes: “estou sobrecarregado”. Esse é um pedido de alerta que há poucos anos não teria tanto impacto quanto em tempos atuais.
Esse é um artigo sobre mim, você e muitos de nós. Estamos cansados da relação com o trabalho que nos adoece e muitos já estão dando um basta. Nesse artigo da HBR, o autor destaca que só nos Estados Unidos, a média de pedidos de desligamento chegou a 4 milhões em Julho de 2021. Esse movimento está ficando conhecido como “great resignation” (ou grande renúncia).
Os motivos são conhecidos. O que é novo, sob meu ponto de vista, é que os trabalhadores não estão mais dispostos a viver para trabalhar (adoecendo em função dessa relação, inclusive) e desejam viver e trabalhar (experimentando um balanço entre seus diversos papéis e necessidades na vida).
Autores como Byung-Chul Han, professor de filosofia e estudos culturais da Universidade de Berlim, já alertavam em suas obras dos efeitos em nosso sistema neurológico desse movimento social que nos faz hipervalorizar o desempenho e obediência e nos desestimula a descansar – mesmo após um dia estressante de trabalho ou quando temos essa possibilidade.
O filme Cisne negro , de Aronofsky (2010), pode evidenciar sua tese. Neste thriller psicológico, a imposição da performance e do desempenho mediante a autossuperação é incorporada pela protagonista e levada a suas últimas consequências. A autodestruição da bailarina – que figura aqui apenas como metáfora do desempenho profissional contemporâneo – nada mais é senão a perseguição obstinada do enunciado “tu podes”. A vida imita a arte, não é mesmo?
Será que estamos próximos ao fim do discurso “vista a camisa” ou “trabalhe por um propósito” a qualquer custo? Sinto que empresas, líderes e cada um de nós precisa repensar urgentemente quais são nossas reais necessidades e prioridades.
2022 nos convida a repensar ainda mais nossa relação com o trabalho
Você deve ter acompanhado que desde 1° de janeiro, a Síndrome de Burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, passou a ser considerada uma doença ocupacional por conta da nova classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS). A doença foi oficializada como estresse crônico de trabalho.
Essa é uma grande conquista para nós trabalhadores e um alerta para as corporações em especial: saúde mental, respeito e bom senso precisam estar na agenda.
Quais são os caminhos possíveis para sermos protagonistas no processo de buscar o balanço vida x trabalho?
Além de reconhecermos a importância de colocar a saúde mental na agenda – como indivíduos e corporações – um outro movimento importante, em especial se você é líder, é abrir espaços de escuta junto aos trabalhadores e entender juntos por onde começar (caso sua empresa ainda não tenha nenhuma iniciativa em relação ao tema).
Líder, converse abertamente com seus liderados e, principalmente, dê exemplo cuidando de sua própria saúde mental. Nesse artigo do meu blog compartilho 5 táticas imbatíveis e possíveis para começar a praticar.
Mais do que buscamos qualidade de vida ou liberdade de trabalhar a partir de um modelo que funcione para todos (trabalhador e empresa), é essencial praticarmos a auto-observação. Comece a se perguntar ao final do dia de trabalho: “qual minha necessidade que não está sendo atendida?” e, a partir desse exercício, crie espaços para respeitar essa necessidade. Não tenha medo de expressá-las para sua gestão e encontrar juntos caminhos para respeitá-las. Essa é uma jornada muito pessoal. Que tal criar a sua fórmula?
Um ambiente de trabalho saudável é aquele que existe respeito – de fato. Esse é definitivamente o caminho comum para todas as corporações e trabalhadores.
Outro exercício que uso comigo mesmo é definir princípios para ação. Por exemplo, eu não renuncio ao hábito de me alimentar bem, dormir pelo menos 8 horas por dia e inserir práticas físicas na minha rotina. Respeito o seguinte princípio: “sem saúde, sem performance”. Qual princípio que se você começar a respeitar vai te trazer uma postura mais compassiva com você? Pense nisso.
Pedir demissão nem sempre é o único caminho para encontrarmos um balanço na relação com nosso papel profissional. Ressignificar a relação com práticas como essas pode ser um primeiro pequeno passo.
E você? O que pensa sobre esse assunto? Também percebem esses desafios no mundo corporativo pós pandemia? Ficarei feliz em interagir com você.